Autoras:
Dra. Maria Antônia Serra-Pinheiro
Comitê de Psiquiatria da Abenepi-Rio
Dra. Priscila Silveira Martins
Comitê de Neurologia da Abenepi-Rio
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O que é TEA?
TEA é a sigla para Transtorno do Espectro Autista. O TEA se caracteriza por comprometimentos na comunicação e socialização importantes, além de interesses restritos e comportamentos repetitivos. Entende-se que o grau em que essas dificuldades e comportamentos se apresentam pode variar muito. Por isso, emprega-se o termo “espectro”.
Quais os principais sintomas de TEA?
Os sintomas podem variar com a gravidade do caso e também com a idade da criança, mas, de forma geral, incluem:
- Alteração na fala
- Alteração na capacidade de olhar no olho e olhar conjuntamente
- Pouco interesse por brincar com outras crianças
- Movimentos repetitivos padronizados
- Interesses anormalmente específicos
- Dificuldades com mudanças de rotina
- Respostas pouco comuns a estímulos sonoros, dolorosos, luminosos, olfativos ou tácteis
Como se faz o diagnóstico de TEA?
O diagnóstico se faz baseado na história relatada pelos pais e na observação do comportamento da criança.
É preciso fazer exames?
Para se chegar ao diagnóstico de TEA, não é preciso solicitar exames. Eles podem, porém, ser pedidos para investigar a existência de uma condição genética ou metabólica que tenha contribuído para o surgimento do caso de TEA. Às vezes, também são pedidos exames para esclarecer melhor alguns sintomas, como o pedido de audiometria para investigar a audição de uma criança com atraso no desenvolvimento da fala ou que responde pouco a chamados.
Quais as causas do TEA?
Não existe uma causa única de autismo. Pesquisas sugerem que o TEA se desenvolve a partir de uma combinação de influências genéticas e não genéticas (ou ambientais) que parecem aumentar o risco de autismo. Fatores de risco genéticos são muito importantes no TEA e envolvem tanto herança genética dos pais quanto mutações novas. Diversas síndromes genéticas, como X-frágil e esclerose tuberosa, também estão associadas ao TEA. Fatores de risco ambientais envolvem, por exemplo, infecções, prematuridade, falta de oxigenação cerebral, uso de determinadas medicações na gestação etc. Já foi comprovado que as vacinas não causam TEA!
Qual o tratamento recomendado?
Até o momento, não há tratamento curativo para o TEA. Porém, diversas intervenções vêm sendo desenvolvidas e estudadas para reduzir sintomas disfuncionais e maximizar as habilidades das pessoas com autismo. O ideal é que o acompanhamento dos pacientes seja feito por equipe multidisciplinar, composta por médicos (como pediatra, neuropediatra, psiquiatra), psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, pedagogos etc. Como o TEA se manifesta de forma diferente nos indivíduos, é importante que o tratamento seja o mais individualizado possível.
Algumas abordagens específicas – como a Análise Aplicada do Comportamento (ABA) e o Método Denver – têm conseguido comprovar eficácia em pesquisas. Embora estas modalidades ainda não estejam amplamente disponíveis nem sejam oferecidas pelo SUS, esta situação tende a mudar, já que cada vez mais profissionais vêm procurando capacitação nestes métodos.
Embora as medicações não sejam o tratamento principal do TEA, elas podem ser usadas para reduzir alguns sintomas (como agressividade, hiperatividade, ansiedade etc.), favorecendo, muitas vezes, o rendimento nas terapias e melhorando a qualidade de vida. Terapias alternativas – como dietas, por exemplo – não têm benefícios comprovados até o momento, e continuam sendo estudadas.
Como posso estimular meu filho(a) em casa?
Em primeiro lugar, peça orientação e sugestões aos profissionais envolvidos no tratamento de seu filho(a), pois eles conhecem bem suas principais dificuldades e seus pontos fortes. Em casos de diagnóstico recente ou se o tratamento ainda não foi iniciado, seguem algumas dicas que podem ser úteis, já que o tempo é precioso:
– Estimule a comunicação e sociabilidade: se posicione na altura e direcione o rosto e o olhar de seu filho(a) quando falar com ele; ensine a usar gestos (como apontar, dar “tchau”, mandar beijo etc.) e imitar o outro. No início pode parecer “forçado” e artificial, mas quanto maior seu repertório de comportamentos comunicativos e sociais, melhor!
– Use recursos visuais (como fotos, desenhos, quadro de rotina etc.) para aumentar as possibilidades de comunicação e compreensão do que é dito (antecipar o que vai acontecer naquele dia, explicar alguma mudança ou fazer combinados, por exemplo).
– Use os interesses específicos a seu favor (brinquedos ou personagens favoritos podem ser usados para chamar atenção de seu filho(a) ou como recompensa.
Uma palavra de encorajamento: o diagnóstico como ponto de partida
Embora o momento do diagnóstico seja um momento difícil e doloroso, é importante pensar que esta notícia também traz respostas e aponta um caminho. Sabemos que não é um caminho fácil (se prepare para encontrar curvas, obstáculos e encruzilhadas), mas seguem algumas boas notícias:
– O TEA é uma das condições mais estudadas atualmente. Numerosas e importantes descobertas têm ajudado a entender cada vez melhor o TEA (e o cérebro como um todo) e aperfeiçoar os métodos de diagnóstico (precoce) e tratamentos. A ciência é sua principal aliada!
– Você não está sozinho(a). Diferente do que se acreditava no passado, o TEA não é raro, ocorrendo em 1 a cada 54 crianças, e a maior conscientização das pessoas (sobre os sintomas) tem ajudado a detectar cada vez mais casos. Grupos de pais estão se organizando cada vez mais, favorecendo o apoio mútuo, a troca de informações e a luta, com resultados concretos, pelos Direitos dos pacientes e cuidadores.
Referências:
- American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM–5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
- Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento. Sociedade Brasileira de Pediatria. Transtorno do Espectro do Autismo: Manual de Orientação. No 05, Abril de 2019.
- Brian JA, Smith IM, Zwaigenbaum L, Roberts W, Bryson SE. The Social ABCs caregiver-mediated intervention for toddlers with autism spectrum disorder: Feasibility, acceptability, and evidence of promise from a multisite study. Autism Res. 2016 Aug;9(8):899-912.
Sites de interesse:
https://autismoerealidade.org.br/o-que-e-o-autismo/
https://autismoerealidade.org.br/convivendo-com-o-tea/perguntas-e-respostas/